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Assembleia de MT derruba veto do executivo sobre mercadinhos nas unidades prisionais

Assembleia de MT derruba veto do executivo sobre mercadinhos nas unidades prisionais

Em uma sessão marcada por intensos debates e decisões estratégicas, os deputados estaduais de Mato Grosso derrubaram, por 13 votos a 10, o veto parcial do Executivo ao Projeto de Lei 2041/2024, que regulamenta o funcionamento dos raios de segurança máxima, os procedimentos disciplinares, visitas, revistas, uso de celulares e atividades comerciais dentro das unidades prisionais do estado.

A derrubada do veto representa uma reação direta da Assembleia Legislativa à tentativa do governo estadual de flexibilizar as regras que hoje limitam o funcionamento de “mercadinhos” – pequenos comércios voltados a suprir detentos com produtos não fornecidos pelo sistema penitenciário.

O dispositivo vetado pelo governador Mauro Mendes (União) propunha permitir a comercialização de produtos dentro dos presídios, desde que gerida pelos Conselhos da Comunidade e sob fiscalização de órgãos como o Ministério Público, Poder Judiciário e Secretaria de Justiça. Segundo o Executivo, a medida visava garantir dignidade aos internos e preencher eventuais lacunas do Estado no fornecimento de itens básicos.

No entanto, o veto não foi bem recebido pela maioria dos parlamentares, que entenderam que a proposta original oferecia mais rigidez e segurança, além de coibir práticas que poderiam favorecer o fortalecimento de facções criminosas.

Segurança, ressocialização e combate ao crime

O presidente da Assembleia Legislativa, Max Russi, foi enfático ao rebater as críticas de que o Legislativo estaria afrouxando o controle sobre os presídios. Segundo ele, o texto aprovado pelos deputados não representa um “liberou geral”, mas sim uma regulamentação responsável que busca preencher lacunas estruturais do sistema prisional.

“Os deputados compreenderam que onde o Estado falha, precisa haver alternativas para garantir dignidade e estrutura mínima. A proposta aprovada permite esse equilíbrio sem perder o controle sobre o que entra e sai das unidades penais”, disse Max.

Ainda de acordo com Russi, a decisão do Legislativo leva em consideração debates com o Ministério Público, o Judiciário, lideranças partidárias e especialistas da área, e resultou em um substitutivo que oferece regras claras e mecanismos de fiscalização mais eficientes.

Veto causava atritos com diretrizes de segurança

O texto vetado foi duramente criticado pela Secretaria de Estado de Justiça (Sejus), que apresentou uma série de argumentos contrários à sua implementação. A pasta apontou risco de conflito com a Lei de Execução Penal, aumento das desigualdades econômicas entre detentos, favorecimento de facções criminosas e enfraquecimento da política de ressocialização.

Além disso, o Comitê Integrado e Estratégico de Combate ao Crime Organizado (CIECCO), coordenado pelo governador Mauro Mendes e composto por diversas instituições da segurança pública, também se posicionou contra a manutenção de práticas comerciais dentro das prisões, destacando que esse tipo de estrutura é frequentemente explorado por organizações criminosas como meio de poder paralelo.

Durante os debates no CIECCO, foi firmado consenso de que extinguir completamente esses pontos de comércio interno é fundamental para restaurar a ordem, controlar o fluxo de recursos e evitar que presos ligados ao crime organizado usem essas estruturas como moeda de poder.

Próximos passos

Com a derrubada do veto, o Executivo tem agora o dever de promulgar o projeto na forma aprovada pelo Legislativo, que proíbe atividades comerciais nas unidades prisionais e prevê o encerramento imediato de mercadinhos, cantinas e estruturas similares, conforme cronograma estabelecido no artigo 21 da nova lei.

A legislação também reforça a proibição do uso de telefones celulares, define normas rígidas de inspeção e revista, e detalha os critérios para entrada de visitantes e atuação de profissionais do Direito dentro das penitenciárias.

O debate sobre o tema deve continuar. Max Russi destacou que as leis não são definitivas e podem evoluir conforme novas realidades surgirem, mas frisou que qualquer mudança precisa ser amplamente discutida, com foco na segurança, ressocialização e respeito à ordem institucional.

“Estamos construindo pontes, não muros. O interesse do sistema prisional é ressocializar e reintegrar. Mas isso só é possível com um ambiente seguro e controlado”, finalizou o presidente da ALMT.

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